Bem Vindo

Seja bem-vindo. Hoje é

3 de abril de 2015

Vidinha ( À Adélia Prado)























Minha querida,
Quando amanhã o sol vier te ciceronear por mais um dia, 
Lamber-lhe infantilmente a face como um cão
Abrindar seu dono... Pós teu rito de asseio invade
"Toda estrela", o céu da rua e me vá comprar o pão.

A este passo,
Quando já eu entre panelas, louças e estardalhaço,
( pois é pouco o jeito), terei de certo a chaleira encontrado;
As dracônias bocas do velho fogão a lenha assanhado.
Te tragará na volta o cheiro do nosso íntimo café preto.

Entre torradas,
Travessa com frutas e o sobejo do dia passado,
Penso nos pombos, caso fossem nossos convidados,
Bicando vorazmentente da toalha de mesa o bordado;
Buscando migalhas de amor numa mesa abastada.

E nossas mãos
De margarina, leite, iogurte ou mel tão embebidas...
Ao contrário e muito, muito além da fome de encher barriga
Não ainda saciadas, hão então de entrelaçarem-se.

"Oração, olhares carinhos..."
No quintal os passarinhos e o vento na folhagem".
Uma vida para um café.

20 de janeiro de 2015

Hoje

 



















Há dias em que as palavras
Não comprovam-se do éter paridas.
Não sobrecai-nos como se chovidas.
Há dias mesmo sem palavras.
Há dias de palavras... Versos brancos ou rimados
Que me vem de um frio olhar opaco;
Do mogno colonial do criado mudo em meu quarto,
Da janela embaçada pela poluição proveniente 
Dos carros. os dias sem palavras foram os que 
Mais me deram-nas.
Que silenciem os verbos...  Acotovelam-se na 
Gaveta da escrivaninha, sabem já o momento
Em que pretendo fumar. Mal acerca-se de minha boca
O veneno amigo, no fumacê posso avistar já
Transmutadas em ideias.
Ha dias em que as palavras
Descem pelo ralo do banheiro e na caixa do esgoto,
Ao desembocar, na miscelânea impura colabora
À um borbulhar; este, por outrem visto e ouvido
Sugere então observação . Dirar-se-a algo.
Torra-me agora os olhos
Os raios do mito brilhante e mudo de pessoa.
Se quiser, escrevo possível cegueira...
Torra-me agora toda péle.
Terei imenso rubor a qualquer supor subserviente.
Palavra e éter:

18 de dezembro de 2014

Madelaine





















És um código, Madelaine!,
Digo-te assim por viver a te buscar
Em profunda investigação.
Na mata-virgem dos teus olhos me perdendo
E me achando, no infinito desses verdes olhos,
Polinésios oceanos, embarcação sem rumo vou
Ao encontro da terra-firme do teu calor;
Das tuas palavras mais perdidas ao vento.
Se no mistério é que te encontro tão senhora,
Tão perfeita alva-alma iluminada, por que então
Quereria eu agora de teu ser tirar o véu ?
Não, doce desatino meu! Quero-te assim feito
A lua suspensa no céu, para que de saturno
Um dia eu roube um anel e adorne o astro celeste que é teu corpo.
Minha madelaine, temo que se um dia eu
Decifrar-lhe e aos olhares, beijos abraços
E amores indevidos te entregares;
Faço de meu ser o teu altar e da minha
Escrita adoração enquanto houver  eternidade.
Deixo-te essas palavras tão sinceras
Como algo que voltarei para buscar,
Como viçosa flor das primaveras 
Para todo o sempre á sua enfeitar.

5 de outubro de 2014

Dois Deuses


Outro dia me pousa no pensar  um pássaro.
Em mim, que pousado estava sobre a vida,
Que pensava sobre voos e pousos e vida;
Sobre vida e pássaro que um dia pousa.
Naquele dia brando de pensar o pouso
Discuti a morte de um jeito manso,
De um jeito meio pássaro que espraia 
Ansiando ninho quente à meu descanso.
Vi então abrir-se o céu e mares todos,
Vi meus anjos, meus demônios desbotados.
Belos, vis, irmãos algozes  misturados.
E um pássaro-menino ainda tolo.
Eu bebia minhas horas mais tranquilas
Derretendo em raciocínios pertinentes;
Derretendo tão descrente frente a vida...
Tão e tanto, tão a tudo intransigente!

25 de agosto de 2014

Analogias (I)


















Principiam já radiarem as ramagens  do meu capitólio.
Surgem as primeiras valas em terreno D´antes plano,
Promissor de fecundos prados, festas constantes e rios de risos.
Sim, é feita para o brilho, agrado e tantas vezes
Deslumbramento alheio; essa paragem ornada
Por dois sóis dos quais vertem, vez por outra,
Cachoeiras d'águas dúbias.
 Principiam já palidez, ferrugens...,
Todo assomo de desses detalhes que acercaram-se das paragem,
Feito Serpente a espreita, pré-ataque.
As ventanias já não preocupam se implicam desalinhos.
A paragem quer mesmo é derramar-se nas seda de um céu escuro,
Porém que ao menos assombre.
Quer frio não o queime (esse meu rosto envelhecido).
Ilná!? Ilná!? Venha-me derolir a fachada encrustada de limo!
Dá-me apenas uma lembrança: Fita a paragem
Hoje morta em vida com teus olhos de saudade cândida.

21 de julho de 2014

Funeral




 



















Aos futuros detentores do féretro meu,
Aos convivas de maior proximidade
Peço não deixar-me, na hora do adeus,
Aos funestos vermes da última profundidade.

Dispenso honrarias de floridas coroas,
De Marmóreo-Brilhoso-Této e mil dizeres.
Guardem o possível choro que gritante ecoa
E levem-me de pronto ao infindo lar sem paredes.

Sepultar-me a, bom amigo das precisas horas
Na majestosa tumba de verdadeiro herói;
Inda eu men mesmo sendo dele à altura,
Quero tanjos convulsos que ao féretro não mais dói.

Jogai-me, bom amigo, no mais alto alto-mar!
Nos braços de um netuno em fogo féro, todo fúria;
Arremessa o resto-morto em vil penúria
No mais fundo cerne donde não pense eu voltar.

Desejo na maior estrela fronte a terra
Dar-me mais que a nau passante à afundar
Desejo nos tentáculos da grande estrela
Côrso morto, ser feliz ao transladar.

E quando a hora, bom amigo, for-me então derradeira,
Não te apiedes da roupagem de um espírito.
Lanca-me ao mar tal qual flechada
Ao seio do enorme mosntro mais bonito.

25 de maio de 2014

Rancor Moderado














Vestal de ponta de esquina, dourada mulher-menina
Passei por ti. Banhei-me  em teu riso lento,
Riso D'ERVA que abre e fecha; me abri, fechei-me
E perdi-me! Não se culpe! Que apenas passo...

Vestal salgada de areias, de bronze dos pés
À corola.Bati com olhar mais perdido no seu 
De soslaios bandidos. Me dei, olhei e fiquei!
Não preocupe! Que se fico, calo...

Vestal de perfume ingrato, feito o mesmo
A se esvair estás em braços que te pagam por 
Abraçar. Com patacas que daqui não se leva.
Não entenda! Chora então o meu rancor...

Vestal que me dá poemas, nessa tarde que em mim
Trovoa, caso venhas contemplar o sol caindo;
É bem certo... Deverei estar chorando,
Deverá meu peito. Por ciúme, estar partido;

Mas ao ver o astro te peço, encarecidamente,
Lança infames hálitos de encontro ao mesmo.
Nem odores da cópula perder-se deixe a esmo:
Lança ao sol, faze-se então onipresente.