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3 de abril de 2015

Vidinha ( À Adélia Prado)























Minha querida,
Quando amanhã o sol vier te ciceronear por mais um dia, 
Lamber-lhe infantilmente a face como um cão
Abrindar seu dono... Pós teu rito de asseio invade
"Toda estrela", o céu da rua e me vá comprar o pão.

A este passo,
Quando já eu entre panelas, louças e estardalhaço,
( pois é pouco o jeito), terei de certo a chaleira encontrado;
As dracônias bocas do velho fogão a lenha assanhado.
Te tragará na volta o cheiro do nosso íntimo café preto.

Entre torradas,
Travessa com frutas e o sobejo do dia passado,
Penso nos pombos, caso fossem nossos convidados,
Bicando vorazmentente da toalha de mesa o bordado;
Buscando migalhas de amor numa mesa abastada.

E nossas mãos
De margarina, leite, iogurte ou mel tão embebidas...
Ao contrário e muito, muito além da fome de encher barriga
Não ainda saciadas, hão então de entrelaçarem-se.

"Oração, olhares carinhos..."
No quintal os passarinhos e o vento na folhagem".
Uma vida para um café.

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